Desisto. Não tenho vontade de ser eu nestes dias. Não percebo se erro ou se erram comigo. Odeio quando uso carapaça, odeio quando me escondo dentro dela para não enfrentar os meus medos. É ridículo, sinto-me uma carta fora do baralho no meio da noite. Tudo funciona na base do social. "Olha a Maria, já nao a via à tanto tempo", "Olha o Manuel, vou-lhe falar, já volto", "Olha o João já chegou, vou ali ter com ele", "Mariana, que saudades, que estás cá a fazer?"... Não profiro nenhuma destas frase, ouço-as vezes sem conta naquela que devia ser a nossa noite. Que stress ao jantar, "tens de ir no teu melhor", "leva este meu fio", "deixa-me esticar-te o cabelo", "sim, leva essa, fica-te melhor". Para que? Por muito bem que vá, acabo por me esconder dentro da carapaça, acabo por não ser eu, por pensar uma coisa e dizer outra. Prometo mil vezes que não vou voltar a ser aquela pessoa que sempre fui. Vou agir como eu sou, fazer o que achar melhor... Mas nunca consigo, só me escondo mil vezes, encosto-me na comodidade de ficar a pensar como podia ser, de ficar a chorar do que podia ter, de ficar a escrever o quão arrependida fiquei, e volto a prometer-me mil vezes que não me voltarei a esconder, o que acaba sempre por acontecer.
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